Desperta
desespantando-se de todo. A noite dos aforismos é para poucas inspirações de
fé. Tem fé o fortemente amparado pelas lâminas de seus anjos encaminhados. De seus
cantos entoados em favor de um pequeno corpo fechado: eu tenho certeza. Veja um
brilho inicial-fim, mas faltavam-me palavras de consolação ao consolador,
basicamente. Granulados de mortezinhas vêm vez ou outra procrastinarem os meus
ouvidos, pois, já que anda a vida sem acontecimentos triunfantes, ascendem os
delírios como Maria aos céus de dentro de mim. Eu os aceito educadamente.
Palavrinhas-espantalhos essas, cheias de frondosas asas as que voam rumo aos
jogos de sentidos entrecruzados e à primazia das expressões compostas, nascidas
da ausência teórica pronta. Maior que a liberdade é o abraço-sonífero de meus
sonhos. Desde então eu creio nos esquizofrênicos, pois em alguns de seus
relatórios, há um pedido de socorro quase sintático, ali onde a anestesia ainda
não faz parte. Eu prefiro lá, em que tudo são micro-códigos
desregrados-desgarrados. Interrompamo-nos no auge do que nunca chegou até lá,
pois, tudo o que se replica, pende dolorosamente aos fracassídios e se enremela
involuntariamente na curvatura dos olhos outrora tão promissores, tão sinuosos,
tão. E se, ao passo que pequenas deformações são férteis e insistentes, as mais
inquestionáveis belezas apenas se canonizam: unicidade no tempo e no espaço.
Notas de lamentação.
Clube da Literatura
"Choveu na palavra onde eu estava." (Manoel de Barros)
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
In: autoajuda, só que não
Deram-lhe a terceira anunciação
de falências. Cavaleiro quarto de deus na terra, responsável pelo
encaminhamento ao corredor das despersonalizações demoníacas daqueles imaculados
de passionalidade, de cujas sensações foram vidas sinestésicas, de cujas expressões
foram saguões cheios de vácuos simultâneos. Senhores de gemidos nunca vindouros
e de micro-sismologias enganosas que se engendraram no buraco de um ventre-inspiração
nada frutuoso. Tudo paulatinamente largando mão de ser custoso aos olhos de
serem lacrimosos, aos peitos de serem cardiopatas, as sudoreses de serem
molhadas e constrangedoras. Tudo pendendo cabeças pensantes de torturas. Não para
o espaço da mediocridade galopante. Um suspiro-moinho de espíritos mesquinhos e
cíclicos. E retornantes para nossas habilidades o mínimo artísticas e
emocionais. No âmago, no âmago era de covardiazinhas de que a vida ia se
alimentando. Compulsivamente, amargamente. Coisas d’antes jamais outrora inexoravelmente
desgarráveis, se mesclando se mesclando penetráveis então. Outras tantas, porém
tão Superbonderes implicadas, dissipando-se como quem perguntasse: mas o que
antes nos colara tanto, a ponto de um só sermos? Onde anda o curvo tempero de
nossas excitações. Sê tórrido o pegamento, ao passo que o coração de formas
calvas se abocanhava pequenininho e seus sofreres. Tira-o de mim, antes que
todos nos emburreçamos fatalmente. E nos imerjamos no leito de babas, pois nos
secarão as fontes das palavras de amores e de intelectualidades. Um tracejo
enormemente planejado dentro de cada uma das estrelas que caem. Somos os
apocalipses em cada respiração. Somos os contornos novelosos de serpente penduradas
em pescoços. Tudo nasceu de um uivo pelo abismo que se abria desde infante, e
se arreganhava. Inicialmente, o onírico era uma luz meio rochosa, fala-se da
vontade voluptuosa de comê-la, de que ela coubesse e se deitasse sobre nossas superfícies
tão materialmente apegadas às possibilidades duais de se aperceber. Hoje dirá
não reside mais tenuidade nisso tudo. De vez em outra, os fantasmas se alternam
com os terrores apalpáveis. Diz-se qualquer assunto da aceleração controlada do
pensamento. Da sequência das imagens mentais e dos tremores nas pontas do dedo.
Esse é o tempo, misterioso curandeiro de hoje para amanhã. Interminável o que
preenche as ausências e as certezas dos que nunca mais voltarão aos ninhos
amantes originais. Incertos os que viverão sustentados e impetuosos em busca da
supressão do in. Plagia-se assim, despudorosamente, que mais uma vez teria sido
melhor ter ido ver o filme do Pelé.
sexta-feira, 15 de junho de 2012
Em terra de vaga-lumes, abajures também se queimam
Ainda sobre
o imenso empenho de nada. Eu e minha imensa paixão pelas sugestões de vida cada
vez esbranquiçadas nas flores da mente. O tempo vem passando e houve algumas
noites em que parecia que ele não passava nunca. Ali parado, com olhos
ressacosos de Capitu, mas enquanto isso ele passava sorrateiro à minhas
impercepções de coisas práticas. À minha única conclusão de que os seres
humanos se extinguirão, em favor de cridos em sua insuscetibilidade, apenas. Pense
então em mim como a mesma sensação das gotículas. Observe que quando o líquido
se vê coagido a sólido, ele corre corre até o ponto mais áureo do cubo, mas ele
vai se imobilizando, se imobilizando. Ele já sabe que a vida recomeça em forma
de arestas mais duras, menos jocosas e mais vulneráveis. Os pequenos fracassos
e seus desfiladeiros inexoráveis: tão escorregadios todas as vezes que nos vêm à
tona. Nem sabemos a razão do pontiagudo da dor que causa: mas que terra é essa
o coração? Pena há vida passando em tudo. Pena há sangue brotando. E pena todo aleijado
tem muleta. Tem o lugar do pensamento, das paixões e das defenestrações fictícias.
Mas a grande questão é: de que vale um coração? Como saber o que há de
beliscões em pesadelos cada vez mais vívidos? Há uma parede invisível-visível magnífica
e insaciável sendo plantada. Mas de onde vem o bloqueio-mãe, ninguém ainda se
arrisca. Apenas anda-se circularmente, ao passo que a vida vem se encarregando
de que todas as alternativas de escavação de túneis sejam tampadas, até que a
maratona seja vencida redonda. Não há mais saídas, mas há uma fobia enorme de
que o mundo dê voltas e de que a boca do sapo nos espere. Sob a égide de um
imenso pedregulho, incomunica-se, e na porta-pequena-do-mundo-sem-porta,
pequenas conversas montam rigidamente seus blocos, mas na hora de se
ejacularem, não se sabe o porquê ali elas se entalam, elas se atropelam, elas
se engolem. Um câncer de uma vida inteira toda à espreita. Uma série de contravenções
lá d’alma vem se acumulando e o som cada vez mais estridente, penso que os
tímpanos se explodirão por conta própria. Em forma de nuvem, se esfumaçarão. Um
pequeno papel branco é a ponte desse abismo sinuoso e sonolento que se
exacerba. A vida, as outras coisas e seus pequenos buracóides. Prometo que não
há vaga-lume mais prestes a se queimar do que os abajures conduzidos pelas
carnes em dias tão desorientados. Pobrezinhas.
sexta-feira, 18 de maio de 2012
"De que são feitos os colares de pérolas?"
É debaixo da boca da noite que
os corações mais fadigados repousam. É sob o luar que pequena ostra espia o
pecado de viver entre os outros. Desculpe-me, mas é lá que estou; por entre os
ouvidos musicados da pequena ostra. As canções da pequenina são abafadoras, é
um bate contínuo no meio do cérebro. Quem fez isso, disso? A convicção da
pequena ostra me comeu, cada vez mais generosa, cada vez mais alarmante, cada
vez mais hipocondríaca. Pequena fora dela, eram só pérolas. Uma série de
obséquios engasgados diretamente anexados ao enfeite de seu caixão final. Lá dentro
erra-se menos, porque o sol é menos ofensivo. Lá dentro, a potência cerebral de
pequena ostra é menos posta à prova, minto: quase nunca é posta à prova. As pedras
ali atiradas doem tão pouco sobre a carcaça de pequena ostra. Resiste-se mais,
pranta-se menos, vedados os olhos ondulados de pequena ostra. Essa é pequena
ostra; dentro dela não se atingem as barbaridades, as cores da moda, o peso da
moda, a dança da moda, a macaquice humana da moda, pois dotada de uma percepção
incompreensiva a despeito das coisas do mundo de fora; pequena ostra torna-se
constantemente desaprovada para esses rituais. Inicialmente, por conta própria,
segundamente pela desistência insaciável das não-pequenas-ostras. Na imensidão
que não a de dentro dela, a pequena animalzinho seria apenas mágoas, seria
pedaço de maçã comida sempre e nunca maçã por completa, querida, vistosa. Pense
que se você sequer margeasse os fluídos que se passam por dentro do lado
esquerdo do peito de pequena ostra, você jamais lhe pleitearia com tanta
displicência o alcance ao lugar em que nunca se chega. Então você se apropriaria
de uma culpidão imensa, em seguida se corroeria com as doenças psíquicas que
pequena ostra carrega desde-então-nem-sei-quando. Nessa instância, mediocridade
versus amplitude se mediriam e o
mundo todo saberia do que venho tratando. Um ataque de tristezas o comoveria e
um esgotamento tremendo se espalharia, assim como o mar fora um dia aberto, a
vermelhidão da dor que pequena ostra vem carregando a converteria em carne
viva. Ainda não se sabe, mas a sensação prevista se equivale ao amargado pelos
incrédulos em pós-tempos de Jesus e a descrença generalizada em sua filiação
divina. Pequena ostra é uma espécie de Jesus das ostras, de quem chacotam todos
vocês, mas é amanhã? Depois de superadas as crucificações; as renegações às
pompas, os Judas aos cântaros. Mas é depois? Fato é que pequena ostra sabe
antes de todos que é sozinho que se está na vida, é pequena ostra quem mais
acredita na incapacidade de dois ou mais corpos serem coincidentes. Por essa
conta, a pequena vem se esgotando da insistência das frouxidões dos outros; da
reverberação de bocas em seus disse-me-disse-não-disse; do esticamento das
adolescências, ainda que as mais profundas rugas se avultem, saltem aos olhos. Tem-se
pequena ostra enojado das melindras intelectuais; dos teatros circenses para
que apenas uma auto-história seja encenada; da língua nervosa que anseia o
calar de vozes da alteridade, em favor de sua própria elucubração. Pequena ostra
já descobriu que no fundo se é todo descontínuo. No pulo do gato, é que os
sopranos se revelam, é que as calças se enchem de desarranjos intestinais. É no
fundo do poço, que se tornam desnecessárias as exposições, as belezas artífices,
os bem-sucedidos cifrões. No fundo da ostra tem se na conta uma ostra você
também. No fim, a gente morre é sozinho.
terça-feira, 8 de maio de 2012
Sobre as pessoas e Bob, o lagartixo
Primeiro os lóbulos são esquentados.
Depois as bocas se afilam. No mundo das lagartixas ansiosas, é entre a barriga
e o soluço que os pensamentos obsessivos se instalam. Um parasita zunindo para
sempre os tornou espadaúdos lagartixos. Em seguida e do lado de fora, um grande
gozo é certo a respeito de uma vitória lá de dentro inalcançada. Ninguém sabe
de nada, apenas o lagartixo Bob e os-que-não-são-o-lagartixo-Bob. A verdade é
que não se ensina um lagartixo a se espraiar. Sua natureza é avessa ao arreganho,
a lagartixa come arainhas, é branca, pudica. É por detrás das grandes lentes
lagartíxicas que os olhos evitados se apequenam em favor de uma grande fadiga
universal que grita. Mas só todas as demais lagartixas restantes não se
apercebem disso tudo. De repente não se fita desesperadamente em forma de
aprovação, passa-se adiante, ligeira; apenas. Lagartixinha com rabo miúdo entre
- pernas rapidinho. Passa através do pano vermelho taurino. De repente o balbucio
é a melhor resposta, menos as desconexões que se enraízam nos sorrisos
catastróficos. Era apenas lá confuso que se implorava. Sem indagações, sem
perturbações e sem constatações babosas. Era a feiúra, era a gordura, eram
pontas duplas e acnes evidentes, era a desocupação. Uma lagartixa toda
defeituosa. Era o conselho, era o primo de um amigo lagartixo bem-sucedido, era
a piedade da coisa apenas passageira, as lentes tristonhas das lagartixas
idosas, sem vida. Era a desnecessidade de tanta coisa que a linguinha de Bob, o
lagartixo se ressecou. A cauda solta era uma espécie de desarranjo intestinal
das lagartixas. Um suor inundante os seus pezinhos transparentes. De que gargalhavam os tortos. Por que agradeciam
a deus. Não, mas não eram as provocações de lagartixa da vez. Primeiro havia o
desejo intempestivo de que o coração de Bob fosse comido entre a transparência
de seu corpinho. Para isso a questão em voga era destilá-lo. O porquê de sua
esquisitice. Porquê de sua escamosidade. Porquê dessa lagartixice toda.
quarta-feira, 25 de abril de 2012
Da falta de um filtro
O entortamento voluntário
de grampos. O rompimento intempestivo das cornetinhas. O desligamento das máquinas
que concebiam a respiração. No filtro cabiam os sentidos mais profundamente lúcidos. E
nele se enganchavam os mais vívidos pesadelinhos de sangue. A abelha ronronante
se enveredou na cabeça como um balão bolante cheio de gás hélio: um estouro se
deu. Duas gotas de abstinência se pelejando uma conta a outra. Uma queda sem
fim, flutuante e ligeira, para sempre. Eu tinha um filtro em que meu Deus era
uma força imensa. Uma baita de uma mucosa verdejante. Às vezes e de vez em
quando, uma escapadela de surto se permitia e os cornos cresciam nas aves e eu
podia sentir como se fosse bom a pele sendo infringida no pico mais alto dos
chifres. E eu nem me lembrava mais a razão primordial de tanto filtro. Sem o
filtro, as morceguinhas voltaram a se debandar para o lado dos corações
infartados nas costas. Pois era lá que se minara até o centro deitado dos
suspiros das princesas. O filtro me tolhia das ranhuras mais dispensáveis e das
socializações acanhadas. Uma tremura sem fim é um sacudimento de pescoço
apertado. Os ansiolíticos me trouxeram até aqui, sem que sequer um desentendimento
se anunciasse. Agora há um sono eterno que não nos deixa cumprir as solenidades
mais bagatelas, sem que a sudorese venha à tona. Há uma boca no tudo-tudo e um
conjunto de ventres no nada-nada. Lado a lado, como que fundidos a luz de um
mesmo dorso. Há uma inércia que desabilita as papilas, convertendo-as em vômitos
e diarréias. A vida que se põe pra fora é proporcional a que fora entalada no
filtro. Na falta do filtro, vive-se.
terça-feira, 20 de março de 2012
Aforismos e afetações
Quando tratar de afetos, salpique-se sem fim. Frutifique-os como um cão no cio sem fim de amores. Os apegos poucos assim que declarados insuficientes, quando se vão, levam-te. E não há mais nada que seja pesado às suas mãos do que aquilo que não mais é. É, pois, (não) sê-lo o que mais dói. Porque não há nada que fornique mais do que o sexo retirado de um só. Não há o que fira mais do que a faca que não está. Instale-se por entre muitos corações, os povoe à torto e à direita como uns gatos favelísticos sempre tão noticiados. Não pense em choque mais eletrocutante do que aquele lançado aos pés que plainam cuidadosamente sob a superfície d’água, mas que ainda não são Jesus. Não pise em ovos quando se trata de apego. Amarrote-os. Cansei um pouco.
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